sábado, 16 de maio de 2009

NASCIMENTO DA CRIANÇA NA SOCIEDADE MOÇAMBICANA: CASO CHUABO

INTRODUÇÃO

O presente trabalho subordinado ao tema “O Nascimento de Uma Criança na Sociedade Moçambicana: Caso Chuabo”, tem por objectivo espelhar quais os passos que são dados na Cultura Chuabo, desde o momento em que a mulher chuabo se sente grávida, até o nascimento do seu filho/filha.
Entretanto, a Sociedade Chuabo, como muitas outras sociedades do Mundo, de África, bem como de Moçambique, possui certas tradições, certos ritos e rituais que identificam a sua Cultura.
Assim sendo, a abordagem do tema, encontrar-se-á apresentada pelos pontos seguintes:
1. Definição de Conceitos: far-se-ão definir alguns conceitos que dão sustento ao desenvolvimento da abordagem;
2. Período Antes do Parto: dar-se-ão a conhecer os caminhos que se seguem antes do nascimento da criança;
3. Período do Parto: tentar-se-á esclarecer o que se faz precisamente na realização dos trabalhos de parto;
4. Período Pós-Parto: dizer-se-á o que é feito ou que se tem feito, após a vinda da criança ao mundo;
5. O Papel dos Pais: fazer-se-á compreender o que os pais devem fazer após terem trazido mais uma vida humana ao mundo;
6. Implicações Pedagógicas: dar-se-á a perceber qual a importância do tema para os estudantes, em particular, os do Curso de Planificação, Administração e Gestão da Educação (PAGE).
Portanto, para a elaboração do trabalho, foram feitas buscas à obras literárias de alguns autores a partir de livros e pela Internet, bem como a realização de algumas entrevistas à pessoas com experiência e conhecimentos sobre a Cultura Chuabo.




O NASCIMENTO DE UMA CRIANÇA NA SOCIEDADE MOÇAMBICANA: CASO CHUABO

1. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS


1.1. Nascimento é o momento em que um ser vivo inicia o seu processo de crescimento até ao estado adulto, ou seja, quando se pode reproduzir. Portanto, Nascimento é o início da vida de uma pessoa na sociedade. (www.wikipedia.org/Nascimento).

1.2. Criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento. São chamadas recém-nascidas do nascimento até um mês de idade; bebé, entre o segundo e o décimo-oitavo mês, e criança quando têm entre dezoito meses até catorze anos de idade. (www.wikipedia.org/Criança).

1.3. Tradição, literalmente, significa transmissão (latim: traditio, tradere = entregar). Tradição, mais precisamente, é uma transmissão oral de lendas ou narrativas ou de valores espirituais de geração em geração. Uma crença de um povo, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através das gerações. Uma recordação, memória ou costume. (www.wikipedia.org/Tradição).

1.4. Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. Mas, em Antropologia, Cultura é totalidade de padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano.
Segundo a definição pioneira de Edward Burnett Tylor, sob a etnologia (ciência relativa especificamente do estudo da cultura) a Cultura seria “o complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Portanto, Cultura corresponde, neste último, às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo. (www.wikipedia.org/Cultura).
1.5. Rito é uma sucessão de palavras, gestos e actos que, repetida, compõe uma cerimónia (religiosa, na maior parte das vezes). Apesar de seguir um padrão, o Rito não é mecanizado, pois ele pode actualizar um mito, e assim segue ensinamentos ancestrais e sagrados. Entretanto, Rito é um conjunto de actividades organizadas, no qual as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um sentido coerente ao ritual. (www.wikipedia.org/Rito).

1.6. Ritual é uma acção simbólica formalizada e pré-determinada, praticada normalmente num ambiente particular de forma regular e periodicamente. As acções que compreende um ritual incluem na sua generalidade recitações, cânticos, grupos de processos, danças repetitivas, manipulação de objectos sagrados, etc. Normalmente os rituais têm por objectivo invocações espirituais ou respostas a emoções pessoais. Também podem acontecer rituais de grupo, onde pessoas se unem num propósito para uma acção conjunta com o mesmo objectivo. (www.wikipedia.org/Ritual).

2. PERÍODO ANTES DO PARTO

O Nascimento é considerado como acontecimento mais importante no seio de uma comunidade tradicional. Ele está acompanhado por ritos e tabus que marcam a passagem do cósmico para o mundo dos vivos.
A Criança é a expressão da presença dos antepassados no seio da comunidade. É tarefa do grupo acolhê-la e identificá-la. Para isso, o grupo/a comunidade deve criar as condições mais favoráveis ao desabrochamento e desenvolvimento das capacidades inatas e herdadas que a criança traz consigo. (Golias, 1993:14).

Portanto, a mulher ao sentir-se grávida apresenta-se a comunicá-la a todos os seus parentes do sexo feminino com quem mais convívio tem tido, e troca de expressões sobre o seu estado. Só depois de adquirir a certeza de que de facto se encontra grávida é que comunica o assunto ao seu marido. Por vezes, o assunto, é festejado na povoação/no grupo entre as mulheres. De ora em diante, são mulheres velhas da povoação/do grupo que mantêm contacto constante com a futura mãe do bebé, a quem dão conselhos sobre o parto. (Cipiri, 1996:34).

Assim sendo, no primeiro mês da gravidez de uma mulher, na sociedade Chuabo, tem sido feita uma cerimónia designada Mwimetxelò, cerimónia esta que visa fortificar a gravidez.

Segundo Kanabadjo, parteira tradicional – Madhaya, a mulher grávida na fase avançada, portanto entre os seis (6) e sete (7) meses, passa a ser guarnecida pela mãe e pela sogra ou pelos familiares mais próximos.
Quando iniciam as dores do parto, a parturiente é levada à uma mata mais próxima da zona residencial ou no encoste de um murumuché ou mesmo à um lugar calmo da residência da parturiente – Omaanine, comummente no período nocturno, pois, não é permitida a presença de solteiras, crianças ou quaisquer homem.

3. PERÍODO DO PARTO

Kanabadjo, afirma que, o parto é feito por parteiras tradicionais ou por mulheres que já tenham sido mães. O parto é normal ou é demorado e com complicações.
É normal quando ocorre sem nenhuma inquietação, o que é para todos motivo de satisfação. Quando o parto é demorado e com complicações, existe a obrigação de determinar as razoes disso. Portanto, na sociedade Chuabo, parto difícil ou demorado, de princípio não se admite que seja determinado por má conformação anatómica da parturiente, por má apresentação da criança, ou por qualquer motivo igualmente natural, pois, se o parto é difícil é devido ao mau comportamento anterior de um dos progenitores, ou então, ao mal querer de qualquer pessoa, normalmente da família. Assim, a que determinar a razão das dificuldades.
Normalmente, começa-se por convidar ao pai do nascituro a confessar qualquer infidelidade conjugal que tivesse cometido durante a gravidez, ou então, se lembra de qualquer ofensa grave que tivesse cometido contra algum parente ou amigo, e este ter prometido se vingar. Estas consultas ao pai do nascituro são habitualmente, apenas formais, pois, aos pecados da mulher é que se atribui, com maior certeza, os motivos das dificuldades do parto.
Se o parto não se resolve com a confissão dos pecados anteriores do pai ou não admitindo que os tenha cometido, passa-se a inquerir a mãe. Esta á insistentemente convidada a revelar se o filho que está para nascer é do marido ou se pelo contrário é filho de um amante, ou ainda se durante a gravidez manteve relações sexuais extraconjugais. Se a parturiente confessar, o parto pode passar a decorrer normalmente, sendo de admitir que a confissão tenha contribuído para isso.
No caso de a parturiente não confessar infidelidade conjugal a que se possam atribui as dificuldades do parto, a que recorrer ao curandeiro – N’ganga, para indicar o que possa dificultar os trabalhos de parto. O N’ganga, consulta aos espíritos – Ásimo – e neles lê o passado, determinando a pessoa ofendida, que pode ser o pai, mãe, avô ou avó, ou qualquer outra pessoa da família ou memo estranha, sendo mais comum apontados parentes próximos como culpados. O ofendido é convocado e convidado a levantar a maldição, perdoando a ofensa, de modo a que o parto possa decorrer.

Segundo Namulile, mulher mãe, há casos em que a complicação no trabalho de parto não é necessariamente devido às situações acima referenciadas, mas sim, pode ser por causa de algumas doenças, principalmente, Mwana Mulugo.
Entretanto, todas essas situações (relações sexuais extraconjugais, feitiçaria, doença), poder-se-ão resolver através de certos tratamentos, mas, com curandeiros – A N’ganga – específicos à cada situação.
Habitualmente, o cumprimento de todas essas formalidades demora. Assim sendo, se a criança nascer morta, ou morrer a mãe ou ambas, tal situação é sempre atribuído a facto de não se ter determinado, à tempo, o pecado que impediu o bom sucesso, de modo a amaldiçoá-lo.

De acordo com Cipiri (1996:34), nalgumas regiões do nosso país, as mulheres que assistem ao parto, quando a criança está para nascer, tiram as suas vestes e começam a dançar em volta da parturiente, completamente nuas e a família estando fora, vai preparando farinha, galinha e a bebida afim de serem distribuídas às mulheres que assistiram o parto.

4. PERÍODO PÓS-PARTO

De acordo com Kanabadjo, após a realização do parto, a parteira – Madhaya – pega na criança, faz o corte do cordão umbilical, ata-o, limpa/lava na criança e posteriormente entrega à mãe. Assim sendo, os órgãos resultantes do parto são guardados com sigilo, principalmente quando for menina, pois, em caso de descuido, as parteiras tradicionais – A Madhaya – descontentes com o nascimento, podem influenciar a recém-nascida a ter problemas de fazer filhos na idade adulta.

Segundo Evaristo, mulher com experiência de gravidez, a criança fica durante uma semana dentro de casa até a queda do cordão umbilical, cuja queda é acompanhada por uma cerimónia denominada “Othima Mothò”, de modo que a criança comece a sair de dentro de casa. Tal cerimónia é feita por um curandeiro – N’ganga – convocado pelos familiares para dar banho a criança, a partir da junção de raízes e folhas de algumas plantas medicinais e água, a fim de fortificar a criança da feitiçaria e do Mavirigano – doença provocada pela má conduta dos seus progenitores (relações extraconjugais dos pais), ou dos familiares mais próximos – atando nela amuletos na cintura (Omaga Mwihi) ou no pulso (Erise).
Depois da cerimónia, a criança deve ficar uma semana a ser carregada, somente, pelos familiares que participaram na cerimónia.
Neste período todo, a criança e a mãe dormem separados do pai/marido, até pelo menos três (3) meses.
A atribuição do nome à criança, é feita pelos avós paternos (quando é o primeiro filho); pode também ser atribuída o nome pelos avós maternos e familiares paternos ou maternos (do segundo filho em diante). O nome deve ser atribuído no dia da cerimónia Othima Mothò.
O corte do cabelo é feito na terceira semana pelos avós paternos/maternos se for o primeiro filho. Para o segundo, pode ser feito pelos avós ou pelos pais.
A passagem da mãe da criança à cama, ou seja, à dividir a mesma cama com o seu marido, é feita uma cerimónia denominada “Odja Inzadhè”, a fim de não prejudicar o crescimento da criança. Daí, passa a existir uma relação normal entre os pais e com a criança.

5. O PAPEL DOS PAIS
Os pais de uma criança possuem um papel fundamental no desenvolvimento psicológico da criança, além de serem os responsáveis pela sustentação dela. Uma das principais preocupações dos pais é ajudar a criança em desenvolvimento a crescer normalmente. A palavra normal possui dois sentidos, quando relacionada com o desenvolvimento infantil. A primeira delas é a ausência de anormalidades físicas e/ou psicológicas, que são consideradas anormais em toda sociedade e cultura. Estas anormalidades incluem várias doenças, como por exemplo, epilepsia e doenças genéticas. A maioria destas doenças surgem por motivos não (directamente) relacionados com os pais da criança. A segunda definição, onde os pais possuem grande influência, é se a criança possui certas habilidades ou traços, algumas delas valorizadas pelos pais, outras valorizadas pela sociedade onde a criança vive. Uma criança é considerada normal se ela possui estas características. Algumas destas características valorizadas internacionalmente incluem viver amigavelmente com outras pessoas, agir inteligentemente e de maneira responsável, e a comunicação. Crianças vítimas de negligência ou de abuso infantil (por parte dos pais), por exemplo, muitas vezes se comportam de maneira agressiva ou muito retraída com outras pessoas.
Já outras habilidades e traços são valorizados apenas por certas culturas. Por exemplo, nos países desenvolvidos e em vários países em desenvolvimento, espera-se da criança que ela aprenda eventualmente a ler e a escrever. Uma criança incapaz de adquirir esta habilidade pode ser vista como anormal. Porém, em vários países em desenvolvimento, espera-se muitas vezes que uma criança ajude seus pais a sustentar sua família. Tais crianças são consideradas muitas vezes normais, na sociedade onde elas vivem, se elas adquirem as habilidades necessárias para trabalhar e sustentar a sua família, bem como não são vistas como anormais se não sabem ler e escrever.
Certas culturas como a "cultura ocidental" vêm o sexo masculino e o sexo feminino como iguais, ambos possuem os mesmos direitos, e meninos e meninas são criados igualmente. Já em outras culturas, traços considerados masculinos, como independência e competitividade, são considerados anormais entre mulheres, e, portanto, meninos muitas vezes são incentivados pelos pais a ter tais traços, enquanto tais traços entre meninas são reprimidos.
Os pais são especialmente responsáveis em cuidar da criança e de suas necessidades físico-psicológicas, do uso de recompensas e punições, e como modelos de comportamento.
Necessidades físico-psicológicas
Todas as crianças possuem algumas necessidades físico-psicológicas que precisam ser cumpridas e atendidas para que a criança cresça normalmente. A principal necessidade física da criança é a alimentação, da qual as crianças são totalmente dependentes dos adultos nos primeiros anos de vida. Outras necessidades físicas importantes são limpeza e higiene, vestuário adequado e um abrigo. Espaço também é importante, para o exercício de jogos e brincadeiras. Além disso, a criança também depende dos adultos quanto ao aprendizado de bons hábitos de comportamento, tanto à sociedade que o cerca quanto a si mesma, mantendo uma higiene adequada, por exemplo, lavando as mãos antes de comer, não comer nada que tenha caído no chão, escovar os dentes diariamente, etc.
Os pais são obrigados a vacinar a criança, pelo menos contra certas doenças como sarampo, paralisia infantil, tuberculose e tétano, por exemplo.
As necessidades psicológicas da criança são determinadas pelas habilidades e pelos traços de personalidade que os pais esperam que seu filho desenvolva. Espera-se mais responsabilidade e maturidade da criança quando esta passa a ir à escola regularmente, a partir dos seis ou sete anos de idade. As crianças passam a frequentar regularmente um lugar onde regras existem, que devem ser cumpridas, e onde os padrões de comportamento não mudam de um dia para o outro. (www.wikipedia.org/Crianca).

6. IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
O Curso de Planificação, Administração e Gestão da Educação, é um curso que visa formar quadros superiores que possam contribuir para garantir a eficiência e eficácia do Sistema Educativo. Portanto, a programação do Sistema Educativo para o país, deve se ter em conta os múltiplos aspectos existentes na população.
Assim sendo, com conhecimentos sobre o tema em pauta, o futuro Planificador, Administrador e Gestor da Educação, poderá em suas actividades prósperas saber valorizar a Cultura do Povo ou da População do lugar onde for afecto, não só no que diz respeito ao nascimento de uma criança, mas, também, em outras vertentes da cultura.


CONCLUSÃO

Do tema em destaque, O Nascimento de Uma Criança na Sociedade Moçambicana: Caso Chuabo, se pode concluir que o nascimento é um acontecimento muito importante para as sociedades, uma vez que, é pelo nascimento de um novo ser que se sente a presença dos que partiram para o mundo dos mortos (os antepassados).
Entretanto, na Sociedade Chuabo tem-se tido muitos cuidados com a mulher grávida, de modo a que não hajam problemas na realização do parto bem como no crescimento/desenvolvimento da criança após o seu nascimento.
Portanto, é desde a gravidez que o ser humano deve ser tratado da melhor maneira possível, uma vez que, a sociedade tem sempre esperado as novas gerações, com intuito de que são elas que poderão assegurar o mundo/país no futuro, de modo a caminhar para o seu desenvolvimento económico, social e cultural.


BIBLIOGRAFIA


CIPIRI, Felizardo. (1996). Educação Tradicional em Moçambique. 2ª Edição. Publicações EMEDIL: Maputo, Moçambique.
GOLIAS, Manuel. (1993). Sistema de Ensino em Moçambique: Passado e Presente. S/Edição. Editora Escolar: Maputo.
www.wikipedia.org/Crianca
www.wikipedia.org/Cultura
www.wikipedia.org/Nascimento
www.wikipedia.org/Rito
www.wikipedia.org/Ritual
www.wikipedia.org/Tradicão
FONTES ORAIS:
EVARISTO, Virgínia. Bairro Janeiro: Quelimane.
KANABADJO, Amélia. Bairro do Aeroporto: Quelimane.
NAMULILE, Cecília. Bairro Kansa: Quelimane

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